Os quilombolas são os descendentes e remanescentes de comunidades formadas por negros escravizados que, em seus processos de resistências ao cruel sistema escravocrata, formavam suas próprias comunidades, os quilombos (kilombo, que significa: local de pouso ou acampamento).
As comunidades quilombolas são bastante diferentes umas das outras, são milhares e estão presentes em todo o território brasileiro. Nelas se encontram ricas características culturais que se fundamentam no que possuem em comum: a ancestralidade negra. No entanto, há também outros aspectos nada positivos que são, ainda, consequências dos séculos de marginalização e exclusão desta enorme parcela da população, a exemplo de condições de saúde, saneamento, educação e infraestrutura, piores que outros grupos rurais e urbanos (com exceção das condições dos indígenas).
Por essas e por outras, há no Brasil uma série de iniciativas e movimentos, especialmente de origens negras, que lutam pelo fim das desigualdades sociorraciais que têm vindo à tona com bastante clareza neste ano de pandemia.
Desde 2020, há uma movimentação da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas - CONAQ e partidos políticos alinhados com a causa, a fim de chamar atenção para o fato de a população quilombola está em situação de maior vulnerabilidade aos efeitos da COVID-19 em relação ao restante da população, se tratando, portanto, de um grupo prioritário.
Com o apoio do Ministério Público Federal e por força judicial, recentemente foi apresentado o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação incluindo os povos quilombolas nesta fase prioritária, cabendo às organizações quilombolas nos seus respectivos Estados e Municípios, a atuarem junto aos poderes públicos locais para efetivação do direito garantido para o contexto de pandemia.
Imagem/Divulgação - Gréssi Quilombola
A liderança Gréssi Quilombola, presidente da Associação do Território dos Remanescentes do Quilombo Mocambo, Aquidabã/SE (certificada no ano de 2013), e uma das coordenadoras da CONAQ, explicou que nos últimos meses a articulação também vem acontecendo no município de Aquidabã através de constantes diálogos com a Secretaria Municipal de Saúde e seguindo as orientações da coordenação nacional
Enfim, no dia 10 de abril de 2021, iniciou-se a vacinação da comunidade quilombola Mocambo com o seu território: Vaca Preta, Poço do Tigre, Pau Branco, Arapiraca, Pau Ferro, Queimadinhas do Mocambo e Patioba. Foram destinadas especificamente para este fim, 220 doses da Fiocruz, quantidade completa necessária para atender toda a comunidade. Aproximadamente 140 pessoas foram vacinadas no último sábado, as demais estavam fora do povoado e deverão ser organizadas para um outro momento de vacinação.
Imagem/Divulgação
Podemos considerar este momento como histórico para Aquidabã, uma vez que transcende questões de saúde pública e sanitária quando o reconhecimento marca mais uma conquista daqueles e daquelas aquidabãenses que lutam por justiça, por reparação histórica da população negra local e, também, pelo reconhecimento de parte relevante de nossa história.
Redação: Mylena Rocha
Fotos: Gréssi Quilombola